Há pessoas que não são pessoas.
São pessoas tão pessoas, tão plenas que não cabem em si mesmas.
Transbordam.
Não há represa que as segure.
Elas não chegam. Elas não visitam. Elas inundam.
Há pessoas que não são pessoas.
São Pessoas.

Há pessoas que não são pessoas.
São pessoas tão pessoas, tão plenas que não cabem em si mesmas.
Transbordam.
Não há represa que as segure.
Elas não chegam. Elas não visitam. Elas inundam.
Há pessoas que não são pessoas.
São Pessoas.
— Você é índia branca que cupim não rói. Ela contou que esse foi o maior elogio que recebera em toda sua vida. Agora, aos 79 anos, olha-me com um manto de um azul profundo. Seus olhos são duas cortinas. Consigo captar o pulsar da vida. Bem humorada, diz que passou um mês na casa de alguém:
— Vieram me buscar, sabe? Fui para uma casa bonita, um pouco longe daqui. Me trataram tão bem. Me deram tantos mimos. Faziam e traziam o meu café na cama, veja só.
— E a senhora não consegue se lembrar quem eram?
— Não. Mas isso não importa. O que importa mesmo é que passei uns dias maravilhosos com um casal bonito que tinha um filhinho – será que era meu neto? Porque eu bem sei que tenho uma filha e um filho, disso tenho certeza. Disso eu consigo lembrar, os meus filhos estão marcados em mim.
Velhice e meninice se confundem? Porque há uma alegria inerente a certos idosos. Uma alegria inerente às crianças.
Mariana tem Alzheimer ou ficou caduca, como outrora se dizia do idoso que esquecia de coisas e, principalmente, de pessoas.