
CINDIR é uma palavra bonita para significar SEPARAR, AFASTAR.
Também me conecta aos sentidos antípodas: ABEIRAR, APROXIMAR, ACHEGAR.
Pronto. Sosseguei. Afinal, cindir levou-me a algo bom. A algo quieto.
CINDIR é uma palavra bonita para significar SEPARAR, AFASTAR.
Também me conecta aos sentidos antípodas: ABEIRAR, APROXIMAR, ACHEGAR.
Pronto. Sosseguei. Afinal, cindir levou-me a algo bom. A algo quieto.
… vou falar um pouco de Ayn Rand. Ela é autora de A Nascente (The Fountainhead) e A Revolta de Atlas (Atlas Struged). O que mais gosto nos seus escritos é a urgência em colocar o indivíduo no centro das realizações humanas:
Bem, eu sempre sei o que quero. E quando você sabe o que quer —você segue em frente. Às vezes você vai muito rápido e às vezes apenas um centímetro por ano. Talvez você se sinta mais feliz quando foi rápido. Eu não sei. Esqueci a diferença há muito tempo porque realmente não importa, desde que você se mova. (Ayn Rand em Nós Vivos)
Não importa a velocidade com que a gente se move. Importa que a gente se mova. Isso é um incentivo quando achamos que estamos presos, que estamos paralisados.
Não. Você não está paralisado. Tenha calma. Tenha paciência. Tenha fé.
Minha irmã Vera completa 64 anos. Não consigo aceitar que ela morreu. O verbo não é aceitar. Não é esse verbo que quero. Eu não consigo imaginar que ela morreu. Porque ela continua viva em mim. Ela continua viva em algum lugar. Costumo seguir minha intuição e minha intuição me diz que Vera vive. Andei lendo coisas que deixou. Ela escrevia bem. E tinha uma letra tão linda. O que mais me marca sua existência era essa fome insaciável de viver. Nos seus últimos dias, continuava fazendo planos. Dei-lhe de presente desenhos de Tom e ela disse que iria escolher as molduras no centro de João Pessoa. Sim, Vera, você vive sim. Minha irmã linda, você faz uma falta incrível mas me preenche de todas as maneiras. Tem um monte de bilhetes seus espalhados por meus livros. E é assim que volto a você. Sempre. Você vive enquanto for lembrada. Sou e sempre serei sua irmã. Obrigada. Te amo de amor. Amém.
Badalam-se horas que parecem eternas. Ternas. Douradas sílabas de um tempo que não cabe no tempo. Invento. O badalar repica no céu da boca de um passarinho amarelinho. Nem preciso arrumar minhas malas. Partirei já.
É chegada a hora de se despir de relógios Tempo não mais há Só o de celebrar os sorrisos e os arrepios os beijos e as despedidas Os nus mais bem vestidos são aqueles em que a aurora se revela.
… sobre pedra e poesia
Um pedreiro foi o responsável pela descoberta de uma pegadinha que Fernando Pessoa aplicou nos seus felizardos leitores.
A decifração de um não tão claro enigma veio de um estudioso, mais tarde biógrafo arretado do multifacetado escritor português: o jurista José Paulo Cavalcanti Filho me recebeu e um amigo meu para uma entrevista no seu escritório em Recife. O tema não era literatura, e sim algo relacionado à Constituição Federal, a direitos e deveres. Eu acho que ainda tenho o resultado dessa entrevista entre os meus velhos papéis.
Supergeneroso, José Paulo nos contou que sempre achou estranhos os seguintes versos de Fernando Pessoa:
Ele disse que se perguntava, encafifado:
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.
Como alguém pode fingir algo que realmente é ocorre? A resposta seria uma tarefa digna de detetive e essa investigação levaria anos. Zé Paulo falou que estava visitando uma obra de um amigo e ouviu um pedreiro dizer pro ajudante:
– Traz a areia de fingir.
Ops, traz a areia de fingir? Correu pra casa e num dicionário latino encontrou o termo finger:
– Eu descobri que além de fingir, tem também outra acepção: construir! Então, por causa de um pedreiro, me foi revelado que Fernando Pessoa fez uma brincadeira com a gente:
O poeta é um fingidor (construtor)
Finge (constrói) tão completamente que chega a fingir
que é dor (construir a dor) a dor que deveras sente.
E viva José Paulo Cavalcanti Sherlock Holmes Filho!
Eu permiti que Clarice Lispector entrasse na minha vida em 1990 ou 1991. Falo sobre permissão porque quando a gente se torna uma leitora, no fundo o que a gente faz é percorrer um caminho de auto-conhecimento. E acredito que gente atrai os livros que a gente precisa. Tive sorte de começar com um livro que considero ‘leve’ de CL: A Hora da Estrela. Uma peça curta que abocanha tanta densidade. Digo peça porque mais parece obra de compositor de música clássica. Não quero denominá-la de obra-prima de Clarice porque colocar um rótulo pode limitar. E uma coisa que a obra de Clarice não permite é a existência de limites. Lá, tudo transborda.
Iniciei esse texto porque resolvi reler CL e também o que foi escrito sobre CL. Recomecei pela biografia feita por uma amiga de Clarice, Olga Borelli, que a acompanhou durante boa parte de sua vida. Borelli foi tão presente que segurou a mão de Clarice no leito de morte. O título da biografia é Esboço para um Possível Retrato. Não é uma biografia que vai trazer datas e documentos. Trará flashes do cotidiano de Clarice entremeados de textos não publicados e cuidadosamente recolhidos por Borelli. Fiquei maravilhada com esse aqui:
Perspectivas
Cada um vive atordoadamente a própria vida. E se a esse alguém fosse perguntado em que ponto da vida estava, responderia numa sensação de tapa-na-cara e descaso e desaforo e impaciência: O quê? minha vida? E eu lá sei?”
Trecho extraído de Esboço para um Possível Retrato, página 33.
… era como se o dia não tivesse existido. Então, a dica era fazer a pegadinha logo que acordávamos porque ninguém ainda tinha se ligado na data. Como era bom, viu? Se a gente não conseguisse pegar ninguém em casa, então teria que ser a caminho da escola. Chegando lá, as chances diminuíam porque a gente já tinha dormido sabendo que era a véspera e que tínhamos que pregar uma peça.
Isso acabou? Espero que não porque era muito divertido.
Existe um dia da mentira histórico que não é o nosso dia da mentira. O ano era 1938. O mês era outubro. Foi quando Orson Wells fez um programa de rádio tão cheirando à verdade que quem ouviu entrou em pânico. Orson Welles estava narrando a invasão da terra por alienistas.
Pense na confusão que deu em algumas cidades dos Estados Unidos. O roteiro foi tão bem feito pela equipe da rádio que os ouvintes acharam que era tudo verdade. A narração foi do livro A Guerra dos Mundos, de H. G. Welles.
O futuro cineasta e os executivos da estação de rádio foram chamados para depor. Sim. Virou caso de polícia. 🙂
No YouTube, você pode saber sobre o dia em que a terra foi invadida por aliens. Olha só o link:
Eu li Itinerário de Pasárgada, uma autobiografia de Manuel Bandeira, em 2014. O trajeto do poeta pelo poeta.
Sempre me surpreendi com Bandeira e seus poemas vestidos de uma aparente simplicidade que nos podem levar a subir, subir… sem o triste fim de Ícaro.
Grifei tanto o livro, essa parte me cativou pelo tom descontraído e confessional:
Sim, gosto de ser musicado, de ser traduzido e… de ser fotografado. Criancice? Deus me conserve as minhas criancices! Talvez nesse gosto, como nos outros dois, o que há seja o desejo de me conhecer melhor, sair fora de mim para me olhar como puro objeto.
Itinerário de Pasárgada, p. 104
Reler seus autores preferidos vai te trazer algo maravilhoso. É uma nova forma de olhar que te leva a caminhos luminosos.
Faça isso. Escolha seu autor preferido da vida inteira. Certo, um só não dá. Escolha 3 autores e suas respectivas obras. Releia-os. É inspirador!