
— Você é índia branca que cupim que não rói. Foi o que o sogro disse para a nora, Valmira. Ela contou que esse foi o maior elogio que recebeu em toda sua vida. Criou dois filhos sozinha. Aos 79 anos, olha-me com um manto de azul profundo. Seus olhos são duas cortinas em que consigo captar todo o pulsar da vida. Cheia de bom humor, disse-me que passou um mês na casa de uns desconhecidos.
— Vieram me buscar, sabe? Fui para uma casa bonita, um pouco longe daqui. Trataram-me tão bem. Deram-me tantos mimos. Faziam e traziam o meu café na cama, veja só.
— E a senhora não consegue se lembrar quem eram?
— Não. Mas isso não importa, né? O que importa mesmo é que passei uns dias maravilhosos com um casal bonito que tinha um filhinho. Será que um deles era filho meu? Pois eu tenho certeza de que tenho uma filha e um filho. Vou te mostrar umas fotos deles…
Valmira sofre de Alzheimer. Ficou caduca, que era o que se dizia do idoso que esquecia de coisas e, principalmente, de pessoas.