A primeira lição é o óbvio ululante. É o que você está fazendo agorinha: ler. Leia o que quiser, o que puder, o que estiver ao seu alcance porque a leitura faz parte da base da escrita.
Ler firma o alicerce do pensamento que se desenvolve à medida em que as linhas são decifradas. Tranquilize-se quanto ao gênero que você mais gosta de consumir. Sejam quais forem suas preferências, suas leituras constroem uma estrada que leva, naturalmente, a escrever. Basta querer. São dois os lados da moeda: ler e escrever. E vice-versa.
Da primeira lição, proponho uma atividade: adquira um caderno e anote as frases e sentenças que mais marcaram você. Tenha esse caderno com você sempre que estiver lendo. Reproduzir trechos com os quais você se identificou é uma forma de apropriação da obra e isso vai sedimentar suas ideias pois ler não é algo passivo. De jeito nenhum: é uma atitude ativa que descortina horizontes os mais diversos na mente. Olha só esse pedacinho reluzente da obra de Nietzsche: “O homem é corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre o abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O que é de grande valor no homem é ele ser uma ponte e não um fim; o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um acabamento.” | Assim Falou Zaratustra
Que coisa mais linda, não é mesmo? A gente é uma passagem. Guimarães Rosa, de certo modo, dialoga com Nietzsche. A obra-prima Grande Sertão: Veredas termina assim: “Existe é homem humano. Travessia.” Lembre-se ou saiba que Rosa foi um desbravador da língua portuguesa. Ele sabia manejá-la como poucos. Daí quando ele diz “homem humano”, à primeira vista pensa-se que é um erro, uma redundância. Não é um erro. Não é uma redundância. São muitas as implicações desse “homem humano. A travessia de Guimarães Rosa conduz à escritora Clarice Lispector que em A Paixão Segundo G.H., avisa: “E é inútil procurar encurtar o caminho e querer começar já sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser despessoal. Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos.”
Não importa para onde vamos. Somos e construímos nossa estrada. Nossos passos traçam o percurso e se confundem com as escolhas que fazemos. As veredas que o cérebro percorre ao se deparar com os livros são complexos e necessários ao ato de crescer. Quanto mais lemos, mais crescemos como leitores. Começamos a ficar mais exigentes porque devorar obras inteiras vai se tornar um hábito. Não há contraindicações para o ato de ler. Quanto mais, melhor.
Tenha o caderno com você sempre que estiver lendo. Consiga também um menorzinho, tipo caderneta e leve-o aonde você for. Escreva o que der na telha. Pensamentos seus e de outrem. Coloque no papel sem censura. Apenas impeça que as palavras voem para bem longe. Agarre-as. Aprisione-as na sua caderneta.
Mantenho o costume de copiar textos de outrem até hoje. Tenho volumes e mais volumes cheios de citações. É gostoso colecioná-las e isso dá a medida de que tudo o que já foi impresso edifica um acervo universal que está ao alcance de quem começa a buscar. Acredito que os livros são retalhos de uma colcha infinita de sensações, emoções, sentimentos e sonhos humanos, demasiado humanos. E você? Qual é a sua visão sobre a literatura? Que tal escrever sobre isso?
Ah, outra dica: espalhe livros por toda sua casa – menos em locais acessíveis ao seu cachorro, por favor. Cachorro adora comer papel, não é?
Vai que você está na sala para assistir àquela série sobre a Segunda Guerra Mundial.
… então, a primeira lição é: leia. Bastante. Se você não gosta de ler, comece a fazer resenhas de filmes. Ou de documentários. Pode ser um jogo. Ou um mangá. Não precisa seguir o modelo de uma resenha perfeita. Faça com o básico. Identifique o nome da obra; ano de lançamento; produtora; direção; roteiro. Faça. Não tenha vergonha. Não tenha medo de crítica. É para seu próprio consumo. Você vai ver que vai destravar a sua escrita.
Tente escrever todos os dias. Inicie suas anotações com o que você mais gosta. Na minha trajetória de leitora, encontrei alguns livros maravilhosos. Na maioria das vezes, foram os livros que me encontraram.
Essa foi a primeira lição para sua redação nota mil. Lição que se desdobra em outras como uma boneca russa. Uma dentro da outra. Arretado demais! Até breve!